quinta-feira, 18 de junho de 2009

O que há por trás do ouvido biônico – Aprendizado, acompanhamento e adaptação

O processo de aprender a ouvir em crianças e adultos é diferente? Há diferença na velocidade do aprendizado? Quando se dá a junção da memória visual e auditiva, formando a audiovisual?
Dra. Regina Célia Bortoleto Amantini: É igual bebê. Ele vai aprender a ouvir, é como se ele tivesse nascendo ali. Quando a gente nasce, a gente não tem desenvolvimento de fala, ele não vai levar um ano para falar como um bebê, mas ele tem um tempo de aprendizado. O bebê não sabe o que é uma caneta, mas de tanto você falar caneta e mostrar, ele faz a relação com o que ele viu – memória visual – e ouviu – memória auditiva. A diferença do implantado é que ele está atrasado, por isso a gente opera com 6 meses. A criança que vai operar com 2 anos não tem memória auditiva nenhuma. Ela sabe que isso é um objeto de escrever, mas não que se chama caneta.


Por isso ela tem que ter fonoaudióloga na cidade de origem para ser estimulada, para poder trabalhar e mudar etapas de acordo com o feedback (retorno ao estímulo) do indivíduo. A família, que está 24 horas com aquela criança, tem um papel muito importante. O aprendizado dele tem que ser natural, igual a um bebê, só que ele está atrasado. O que uma criança normal atingiu com 4 anos ele vai atingir com 2 anos, com 3 anos. Vai depender da estimulação. Quando ligamos o implante ele vai escutar um pouquinho. Se eu falei “caneta”, ele vai aprender o som que está chegando ali pra ele. Aquele que nasceu surdo ainda não tem memória auditiva. Aquele que já escutava, volta a escutar. O que o aparelho faz é colocar um campo, uma energia, mas com o tempo o cérebro vai se acostumar e aquilo passa a ficar baixo. Por isso é que o paciente tem que voltar no primeiro ano de 3 em 3 meses, no segundo de 6 em 6 meses e assim por diante, porque as fonos vão modificar o mapeamento, aumentar a energia para ele melhorar no reconhecimento de fala. Com cada um é diferente, é individual.

Qual é a interferência no aprendizado do paciente?
Dra. Amantini: Maturidade neurológica. Quando se opera pequenininha, ela adquire essa maturidade, se operar com 10 ou 12 anos, a fase de maturação neurológica já se foi.

Como é feito o acompanhamento do implantado?
Dra. Amantini: Ele opera, testa o aparelho já no ato cirúrgico. Ele fica 3 dias no pós-operatório e vai embora. Ele não está ouvindo nada. Quando ele volta, um mês depois ele vai ativar os eletrodos que estão lá na cóclea. Se está tudo bem ele fica 3 dias em atendimento ali no CPA. O primeiro retorno é 3 meses depois e ele vai receber o acompanhamento de mais 3 dias. Como a maioria é de fora de Bauru, o paciente tem que ter uma fono lá para estimular. Em criança, é um acompanhamento mais próximo, ele precisa vir para estimulação desses eletrodos, já em adulto é um espaço maior: depois de 3 anos, para o resto da vida, ele retorna uma vez por ano. A parte de reabilitação feita em Bauru é no CEDAU, onde a criança tem que ir de segunda a quinta-feira todas as manhãs, lá ele faz terapia com fono e pedagoga. No período da tarde eles vão para escolas normais. Por isso existe também a capacitação para esses professores.

Acontece do paciente não se adaptar ao implante?
Dra. Amantini: Normalmente, se ele recebeu uma indicação correta, o paciente perdeu a audição recentemente, fez toda a bateria de exames, a parte psicológica está legal, a ressonância estava normal, a cirurgia ocorreu tudo bem, se tudo está tudo muito bem, não é normal isso acontecer. Alguma coisa está errada no caminho ou não era um caso de indicação para operar ou foi feita a cirurgia em que o implante sai da cóclea, aí não tem estimulação, ou a cóclea estava muito ossificada e só foi colocado um pedacinho do implante – o que a gente chama de de implante monocanal –, ou psicologicamente ele é todo descompensado ou, como já tivemos um caso, o paciente tinha doença degenerativa, o estímulo estava chegando, a audição estava acontecendo, mas a percepção não. Porque existe uma diferença muito grande entre ouvir e entender. Ele ouvia, mas não conseguia entender porque era um problema cognitivo dele. O caminho auditivo dele, que é da orelha para a cóclea e daí para o nervo auditivo, esse caminho estava ok. O problema provavelmente estava do nervo auditivo para o cérebro codificar o som. Mas aí não é culpa do implante.


O bate-papo com a Dra. Amantini está quase chegando ao fim. Já mandou suas perguntas?

Um comentário:

  1. Olá Dra.!

    Meu nome é Mara e gostaria que, se possível a Sra. respondesse as seguintes questões:

    1º - Como identificar se tenho memória auditiva ou fotográfica.

    2º - Qual o grau de eficiência da memória auditiva no aprendizado?

    Grata.

    Mara Salles

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