quarta-feira, 24 de junho de 2009

PARTICIPE!

Olá!

Tudo bem?

Participe com a gente e conte sua experiência com o implante coclear, mais conhecido como ouvido biônico.

Sua história ou a de pessoas próximas pode ser muito importante para ajudar outras pessoas que estejam passando por situação parecida.

Especialistas da área também serão convidados a contribuírem com os problemas e com as dúvidas que surgirem.

Além de conhecer outros casos e receber orientações de profissionais, os depoimentos e informações postados no blog serão fontes para a produção de um roteiro de documentário audiovisual que será o trabalho de conclusão de curso das alunas responsáveis por esse projeto.

Você pode enviar textos, fotos, vídeos e áudios, para o e-mail
blogouvidobionico@gmail.com. Todos os arquivos recebidos serão publicados. Veja os formatos:

- Textos: .doc (Microsoft Word 97-2003 ou BrOffice)
- Fotos: .JPEG ou .JPG;
- Vídeos: .avi
- Áudio: .mp3

Colabore com este projeto e nos ajude a somar conhecimento!

Entenda o que é Implante Coclear

Quer conhecer a história que deu origem a esse blog? Então dê uma olhada abaixo!

Ruídos sem sentido na inclusão social

Lílian Guarnieri

O diagnóstico era de autismo. Eduardo Ferreira Oliveira, 6, nasceu no interior do estado de Tocantins. O bebê não respondia aos estímulos sonoros da pediatra desde os três meses de idade. O tempo foi passando e a indiferença da criança para com os testes aplicados pela pediatra confirmava o quadro de autismo. Já desconfiada, a médica resolveu submeter Eduardo a exames para medir a audição em Goiânia, a cidade mais próxima que oferecia os recursos necessários. Com um ano e seis meses de idade, é confirmada a perda auditiva profunda bilateral de Eduardo.

Sueli Souza Ferreira, 32, mãe de Eduardo parte em busca de tratamentos para o filho. “No hospital em Goiânia, eles me disseram do implante coclear, mas como algo tão impossível, como se nunca fosse conseguir mesmo. É que lá as coisas demoram muito pra chegar. A única coisa disponível naquela época era o aparelho AAZ (um aparelho convencional para deficientes auditivos, funciona como um amplificador de sons), que foi pedido pelo SUS e demorou dois anos para chegar em Tocantins”.

Com o nascimento da segunda filha, Suellen Ferreira Oliveira, 3, a mãe começa a observar o desenvolvimento da menina com mais cuidado. A experiência obtida com Eduardo fez com que Sueli ficasse mais atenta aos mesmos sinais de surdez do filho. Então Sueli a submeteu à audiometria computadorizada com bem mais antecedência que a Eduardo. Com quatro meses foi diagnosticada a deficiência – antecedência importante para que a criança receba tratamentos na fase de desenvolvimento dos sentidos. “A Suellen entende bem mais que o Eduardo. Ela tem a memória auditiva bem mais desenvolvida e, por isso, consegue fazer a leitura labial com muito mais facilidade. Por exemplo, hoje ela está sem o implante, mas consigo conversar com ela porque ela lê os lábios muito bem. Já o Eduardo ouve, mas não compreende o que os sons significam, ele identifica uma ou duas palavras numa pergunta com cinco ou seis palavras, por exemplo. Eles estão em fase de reabilitação, estão aprendendo uma linguagem. Esse é o trabalho do CEDAU”.

O Centro Educacional do Deficiente Auditivo (CEDAU), do Centrinho da USP-Bauru, desenvolve o trabalho de reabilitação de deficientes auditivos. “No programa de oralização estamos atendendo 27 crianças implantas e 9 com AAZ. No programa de Libras são mais 36 pacientes”. Quem concedeu as informações foi a diretora do CEDAU, Maria José Monteiro Benjamin Buffa. Ela destaca um trabalho importante desempenhado pela instituição. “Além das aulas diárias paras os pacientes que aprendem a ouvir, a associar significados de sons e a falar, nós convocamos todos os professores dos nossos pacientes e eles recebem um curso para saber como lidar com os alunos deficientes”.

Um dos problemas levantados pela professora da rede estadual de ensino, Raquel Mendonça, 47, é de como o professor deve avaliar os alunos deficientes, já que a escola não está preparada para dar condições para que esses alunos tenham o mesmo desempenho que os outros. Maria José alerta que o professor deve ter competência para diagnosticar as capacidades e o desenvolvimento do aluno. “Numa prova, por exemplo, o professor deve conhecer muito bem aquele aluno para saber do seu progresso e avaliá-lo de acordo com as habilidades dele. Inclusive, o aluno surdo tem direito a um intérprete de Libras para traduzir aulas e até mesmo provas, já que ele pode apresentar dúvidas”. Ao ser questionada sobre a funcionalidade do método na prática, a diretora confessa que é muito difícil isso ocorrer. “Isso porque a adaptação para o deficiente auditivo é uma das mais fáceis de se implantar numa escola”, comenta.

Raquel diz que já fez um curso de capacitação para lidar com os deficientes, mas que numa sala de aula com quarenta alunos indisciplinados ela não pode parar a aula, ou diminuir o ritmo da aula porque senão a situação fica incontrolável. “Essa é a realidade da sala de aula. O projeto é lindo, mas não funciona. O que eu tento fazer é escrever sempre no quadro as atividades, mas geralmente os alunos surdos não são bem alfabetizados, conseguem copiar o escrito, mas não tiveram a dedicação para que pudessem compreender a linguagem escrita”.

Sueli vivencia o lado não institucional do drama do programa de inclusão social do deficiente versus o aprendizado . “O Eduardo sempre estudou em escola particular lá em Tocantins, mas quando viemos para Bauru o coloquei na escolinha municipal. Pra mim ele não evoluiu em nada nesse ano. Se a gente fala em professora itinerante aqui eles nem sabem o que é. E o surdo tem necessidades especiais. Do ponto de vista de inclusão, eu vejo melhora nos meus filhos, mas em aprendizado, não. Uma escola adaptada para surdos deveria ter cortina nas salas, carpete no chão, tem que ser um lugar silencioso, porque a maior dificuldade é de associar o som ao seu significado, ou seja, desenvolver a memória auditiva”. A mãe se tornou uma estudiosa sobre surdez para compreender o que acontece com seus filhos e para conscientizar sobre cuidados com deficiente e tratamento. “Participo de todos os cursos oferecidos no CEDAU e sou a primeira a me dispor para divulgar informações sobre o implante”.

Na escola, Sueli conta que as professoras só elogiam seus filhos, mas ela não sabe até que ponto isso é verdadeiro, ou se elas os tratam como incapazes e aceitam “qualquer coisa”. No desenvolvimento da sociabilidade das crianças, a mãe diz que o programa de inclusão é uma iniciativa que ainda está longe de ser como idealizada, principalmente em escolas públicas. “O Eduardo se isola de crianças normais. Ele só se aproxima de crianças implantadas. Na escola mesmo, ele só brinca com um amigo que tem a mesma condição que ele. Ele deve sentir que não é compreendido e se afasta. Ele percebe que as outras crianças vêm perguntar o que é isso, e ficam mexendo do implante dele. Já a Suellen brinca com todas as crianças, porque ela conseguiu desenvolver bem a oralidade, ela fala melhor que o Eduardo. Mas as fonos sempre dizem para nunca compararmos os dois. Eles puseram o implante juntos, há dois anos e quatro meses. Essa é a idade mental do Eduardo, mesmo com a experiência visual de seis anos”.


Na sala de sua casa, Sueli se emociona ao dizer que a deficiência dos filhos é causada por um problema genético congênito dela. “Se eu tivesse vinte filhos, todos eles seriam surdos. Eu sou a única da família que herdei um gene de um tio distante. Eu entendo tudo isso como um propósito pra minha vida. Deus me deu essa missão e sou eu quem tem que cumpri-la”. Nascida em família de classe média, Sueli sempre teve uma vida confortável. “Nunca precisei trabalhar, meu pai sempre me deu de tudo”. A descoberta da surdez dos dois filhos transformou radicalmente sua vida. “Morar numa casa de três cômodos agora não é nada. Eu aprendi a pedir. Quantas vezes não tinha dinheiro pra vir a Bauru!”. Os olhos da mãe lacrimejavam ao admirar os filhos: Eduardo brincava com carrinhos e Suellen assistia a desenhos animados na sala de estar.